quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Dizer a Verdade!




É preciso sempre lembrar que o relacionamento pais-filhos, para que seja saudável, deve estar baseado na verdade e no respeito da situação real, o que é importante também para a experiência escolar. A "conjuração do silêncio" não é útil a ninguém.A necessidade de dizer a verdade à criança (não uma única vez, mas por meio de um contínuo diálogo familiar sobre a situação de pais e filhos adotivos) vale para todas as crianças, independentemente da idade com que entraram na nova família. Esse diálogo evitará aquela situação perigosa que surge entre a criança que sofreu e não deseja pensar no seu sofrimento, e o adulto que teme a dor da criança e prefere não enfrentá-la, racionalizando seu comportamento com a "necessidade de não fazê-la sofrer mais uma vez".A manutenção dessa situação não ajuda a criança.
Pesquisas realizadas com jovens adotados que completaram 18 anos revelaram uma correlação estatisticamente significativa entre silêncio na família, baixo êxito escolar e problemas relacionados com a pouca capacidade de aplicação nos estudos.Bowlby nos fala de uma "fadiga de pensar" naquelas crianças que foram levadas pelos adultos a "não pensar" nos eventos ansiógenos da sua vida passada, e que gradativamente perdem sempre mais espaços de elaboração mental, com o temor de que revivam aquelas recordações que 'não devem ser revividas'.
Françoise Dolto, psicanalista francesa, deu neste sentido uma grande contribuição à educação. Reconhecer a legitimidade do direito a uma palavra verdadeira, e do desejo de conhecer, é uma coisa que todo educador (seja ele pai ou professor) deve sempre fazer, ainda quando isso pareça ser mais difícil. Ela nos diz: "As crianças das quais esconde-se a verdade, perdem pouco-a-pouco a sua energia vital, porque não têm a palavra para dizer onde está o seu sofrimento. É preciso dizer logo a verdade para que elas possam viver as emoções da adoção, ao mesmo tempo, com toda a família. Falar com elas a verdade e escutar aquilo que desejam ou podem dizer, do ponto de vista delas. O importante é permanecer em comunicação com os outros. Quando há comunicação, há sempre a possibilidade de prazer, de alegria, com aqueles que falam honestamente, não com aqueles que fingem".
Alguns poderiam dizer que na adoção de recém-nascidos, seria possível "ir levando", sem que ninguém saiba, ainda que os pais sintam que uma eventualidade pode colocar o "segredo" em risco, com os parentes, os amigos, os vizinhos.
Mas, se é verdade que a criança passa a conhecer o mundo e a vida através de seus pais, e se ela percebe a realidade mais por meio daquilo que os pais são do que pelo que eles dizem, cabe perguntar se uma relação baseada na falsidade ajuda efetivamente a criança a crescer, ou se acaba por criar dificuldades para o seu desenvolvimento harmonioso.
Finalmente, pais e professores precisarão compreender que "não falar", na verdade significa falar de uma outra forma, sempre muito confusa para a criança. A não informação é uma informação.
Frente a esta realidade, a escola não pode se mostrar despreparada.

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